ESTRATÉGIAS INOVADORAS PARA TRABALHAR LITERATURA PRODUZIDA POR MULHERES NA EDUCAÇÃO BÁSICA

Andressa Almeida Nunes [1] 

Altamir Guilherme Wagner[2]

Resumo: Este artigo tem por objetivo discutir a utilização de estratégias inovadoras no ensino de literatura produzida por mulheres. Assim, segue como problemática: como promover o ensino de Literatura produzida por mulheres por meio de estratégias inovadoras? Tendo em vista as poucas produções acadêmicas sobre o tema, esta pesquisa é fundamental para nortear os professores de Literatura para a realização de aulas com metodologias inovadoras. Tem como objetivo geral discutir o ensino de literatura feita por mulheres por meio de estratégias inovadoras. Para atingir tal objetivo foi realizada uma pesquisa bibliográfica de cunho exploratório com a intenção de construir conhecimentos acerca do tema. Primeiramente, temos uma contextualização do tema por meio da realização de um resgate das produções literárias femininas. Para isso, foram utilizados os textos de Priore (2016), Perrot (2017) Gilbert e Gubar (1984), Woolf (2018) e Muzart (2003). Abordamos também a representação das produções literárias feitas por mulheres no livro didático, por fim discorreremos sobre as Técnica do Storytelling, baseados nos estudos de Silva, Oliveira e Martins (2018), sobre a Aprendizagem Baseada em Problemas pela ótica de Pereira e Santos e ainda Camargo (2018), e sobre a Gamificação segundo os textos de Minho e Alvez (2018). Envolver tais perspectivas é realizar um processo de significação do ensino e aprendizagem para os estudantes, tendo em vista o atual cenário educacional, criar uma relação com aspectos inovadores é crucial para despertar a atenção e tornar os estudantes sujeitos do próprio conhecimento.

Palavras-chave: Literatura Produzida por Mulheres; Estratégias Inovadoras; Storytelling; Aprendizagem Baseada em Problemas; Gamificação.

Abstract: This article aims to discuss the use of innovative strategies in teaching literature produced by women. Thus, it follows as problematic: how to promote the teaching of Literature produced by women through innovative strategies? Considering the few academic productions on the subject, this research is an essential guideline to Literature teachers conduct classes with innovative methodologies. Its general objective is to discuss the teaching of literature by women through innovative strategies. To achieve this goal, an exploratory bibliographic research was conducted with the intention of building knowledge about the theme. Firstly, we have a contextualization of the theme through the realization of a rescue of female literary productions. For this, the texts of Priore (2016), Perrot (2017) Gilbert and Gubar (1984), Woolf (2018) and Muzart (2003) were used. We also address the representation of literary productions made by women in the textbook, and finally we discuss the Storytelling Techniques, based on the studies by Silva, Oliveira and Martins (2018), on Problem-Based Learning from the perspective of Pereira and Santos and also Camargo (2018), and on Gamification according to the texts of Minho and Alvez (2018). To involve such perspectives is to carry out a process of signifying teaching and learning for students, in view of the current educational scenario, creating a relationship with innovative aspects is crucial to awaken attention and make students subjects of their own knowledge.

Keywords: Literature Produced by Women; Innovative Strategies. Storytelling; Problem-based learning; Gamification.  

  1.  Introdução

Durante muito tempo o exercício da escrita foi negado ao ser feminino. Assim como em várias outras esferas do conhecimento humano mulheres de todo o mundo tiveram seu acesso dificultado e até mesmo negado. Além disso, foram condenadas a uma invisibilidade simplesmente por serem mulheres. Mas, mesmo com todo o revés enfrentado, elas tomaram a pena na mão e escreveram, leram, contaram, pesquisaram, descobriram e criaram. Para então, deixarem seu legado como contribuição para a construção da história da literatura.

 Assim, com o intuito de aprofundar os conhecimentos acerca desse tema, esta pesquisa parte da tríade: literatura, mulher e inovação na educação. E tem como objetivo discutir o Ensino de Literatura feita por mulheres por meio de estratégias inovadoras. A escolha do corpus deste trabalho, além do interesse pessoal, deve-se também ao fato de que os materiais didáticos de Língua Portuguesa ainda seguem uma perspectiva sexistas em pleno século XXI e a abordagem realizada para o ensino da mesma ainda ser amplamente tradicional. Portanto, trazer à tona esse tema é voltar nossos ouvidos às vozes, que mesmo constantemente vilipendiadas física, social e moralmente, não deixaram de narrar histórias que são parte integrante de nossa formação humana e ainda auxiliar os professores de Língua Portuguesa com estratégias ativas de ensino dando sentido e significado ao processo de ensino e aprendizagem.

No cenário atual, no que diz respeito à literatura enquanto frente do componente curricular de Língua Portuguesa e mulheres autoras, há dois pontos cruciais a serem evidenciados: um deles diz respeito ao ensino de literatura tradicional, mais especificamente em relação aos materiais didáticos que trazem, majoritariamente, homens escritores.  O outro ponto está ligado a instigar o gosto pela literatura, que por vezes, não é apreciada pelos estudantes. Assim, faz-se necessário desenvolver metodologias que possam, ao mesmo tempo, aproximar os estudantes da literatura e contemplar a produção de literatura por mulheres.

A partir desta proposta, acreditamos que o ensino de literatura por meio de estratégias inovadoras como o Storytelling, Aprendizagem Baseada em Problemas e a gamificação, possam vir a ser ferramentas úteis. Além disso, é possível relatar que pesquisas sobre a relação da mulher com a literatura, seja na produção literária ou apenas no consumo, e o uso de tais procedimentos na educação de maneira geral, vem ganhando mais espaço no decorrer dos anos. Desta forma, este projeto de estudo se faz necessário, visto que as questões de gênero e representatividade são latentes em sua contextura. Além disso, essas questões são importantíssimas para o trabalho na escola, e as possibilidades proporcionadas pelo uso da inovação tornam-se uma excelente forma de viabilizar o exercício da visibilidade das mulheres escritoras.  

A utilização de metodologias ativas dentro da educação vem ganhando cada vez mais espaço, posto que os estudantes já não são os mesmo de décadas passadas e com os avanços tecnológicos progressivos e constantes o uso de metodologias tradicionais já não surte mais o mesmo efeito. Isso posto, técnicas como: o Storytelling — narrar histórias de forma significativa — a Aprendizagem Baseada em Problemas — discussão coletiva a fim da solução de problemas — e a Gamificação — utilização da mecânica dos jogos em ambiente de não-jogo – tornam-se alternativas para promoção de ensino e aprendizagem efetivos e significativos aos estudantes. Ademais a questão inquietante: falta de entusiasmo em aprender os conteúdos literários pelos estudantes, seria resolvida com utilização das prerrogativas que o Storytelling, Aprendizagem Baseada em Problemas e a Gamificação trazem, potencializaram o interesse que os estudantes possuem em práticas literárias.

Por fim, com a intenção de ampliar os conhecimentos acerca do tema e, por conseguinte, encontrar estratégias de ensino que possam ser trabalhadas por uma perspectiva inovadora, para que com isso seja possível explorar o universo antes esquecido da produção literária produzida por mulheres, esta pesquisa analisa a temática com um olhar investigativo as situações referentes ao objeto de estudo. Com a abordagem qualitativa e de natureza básica, esta pesquisa teve por objetivo levantar informações acerca das mulheres escritoras, bem como os benefícios que o uso do Storrytelling, Aprendizagem Baseada em Problemas e a Gamificação trazem para o ensino de Literatura, promovendo assim, o engajamento dos estudantes.  Para que os objetivos fossem alcançados foi realizada uma pesquisa bibliográfica, tendo em vista que se pretendia mapear a trajetória de escrita feminina ao longo do tempo, assim como, indicar os benefícios que o ensino pautado no uso das metodologias citadas traz à educação, isso se deu por meio de materiais já catalogados como livros e artigos.

A partir dos fatos citados, pudemos evidenciar a importância do tema de pesquisa para a construção de conhecimentos. Para delimitar e direcionar melhor este trabalho, partimos da problemática desta pesquisa, que está embasada na seguinte questão:  como promover o ensino de Literatura produzida por mulheres por meio de estratégias inovadoras? No intento de responder à pergunta, nossos objetivos foram organizados da seguinte maneira: sendo o objetivo geral: discutir o Ensino de Literatura feita por mulheres por meio de estratégias inovadoras e  na sequência, os específicos : mapear a trajetória da Literatura produzida por mulheres ao longo do tempo; discorrer sobe o uso de estratégias inovadoras nas aulas de literatura e fomentar a leitura de obras produzidas por mulheres.

Este artigo foi organizado em 5 seções. Na primeira, foi apresentada a proposta da pesquisa, contemplando a problemática, objetivos, motivações e justificativa. Na segunda seção será apresentado o percurso metodológico da pesquisa. Na terceira seção é descrita a revisão da literatura, as discussões levantadas acerca das Mulheres dentro da Literatura. A quarta foi será apresentada as estratégias inovadoras para o ensino de Literatura produzida por mulheres.  As considerações finais seguem na última e quinta seção.

2.Metodologia

Buscando analisar a temática proposta esta pesquisa está pautada na investigação a respeito de como estratégias inovadoras podem engajar estudantes acerca do estudo de literatura produzida por mulheres. De forma a atingir a maior veracidade possível no processo de conhecimento da problemática a ser estudada, a pesquisa examinará com um olhar investigativo as situações referentes ao objeto de estudo.

Com a abordagem qualitativa e de natureza básica, objetiva-se levantar informações acerca das mulheres escritoras, bem como, os benefícios que a gamificação traz para o ensino de Literatura, promovendo assim, o engajamento dos estudantes.  

A classificação desta pesquisa, quanto a seus objetivos, caracteriza-a como exploratória e descritiva ao mesmo tempo, tendo em vista que a pesquisa exploratória:

[...] têm como objetivo principal o aprimoramento de idéias ou a descoberta de intuições. Seu planejamento é, portanto, bastante flexível, de modo que possibilite a consideração dos mais variados aspectos relativos ao fato estudado. Na maioria dos casos, essas pesquisas envolvem: (a) levantamento bibliográfico; [...] (GIL, 2002, p. 41)

A investigação exploratória realiza-se sob temáticas pouco exploradas e está ligada intimamente ao levantamento bibliográfico. Para que tais objetivos sejam alcançados será desenvolvida uma pesquisa bibliográfica, tendo em vista que se pretende mapear a trajetória de escrita feminina ao longo do tempo, assim como, indicar os benefícios que o ensino pautado na gamificação traz para educação, isso se dará por meio de materiais já catalogados como livros e artigos, segundo Gil:

A pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Embora em quase todos os estudos seja exigido algum tipo de trabalho dessa natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas. Boa parte dos estudos exploratórios pode ser definida como pesquisas bibliográficas. As pesquisas sobre ideologias, bem como aquelas que se propõem à análise das diversas posições acerca de um problema, também costumam ser desenvolvidas quase exclusivamente mediante fontes bibliográficas. (GIL, 2002, p. 44)

        Tais procedimentos serão cruciais para que a problemática seja evidenciada, considerando o fato da importância de pesquisas relacionadas a questão de gênero, em nossa atual sociedade.

  1. Mulheres (d)e literatura

“Os homens tomaram todas as vantagens sobre nós ao poderem escrever sua própria história. A educação deles tem sido muito melhor que a nossa, a pena está nas mãos deles, e não permitirei que os livros provem nada (a respeito das mulheres) “(JANE AUSTEN, 2016, p. 54)

Falar de literatura e autoria feminina é falar de invisibilidade imposta durante séculos por homens que sempre estiveram com a pena nas mãos. Traçar um panorama entre mulheres e a escrita é relatar a própria história feminina, é sair da obscuridade em direção à luz, “escrever a história das mulheres é sair do silêncio que elas estavam confinadas” (PERRROT, 2006, p. 16). Durante muito tempo a invisibilidade era sinônimo do ser feminino, silencia-las “fazia parte da ordem das coisas”, como destaca Michelle Perrot em seu livro Minha história das Mulheres (2017). Como poderiam então, seres invisíveis lançarem-se a uma atividade tão visível quanto a literatura?

Havia um consenso que a relação mulher e escrita era inconcebível, algo que estava ligada à própria anatomia feminina. Tal conceito foi amplamente difundido no decorrer da história humana, bem como documentado sem reservas em trabalhos de diferentes áreas produzidos por homens. Desde sempre às mulheres foi relegado o espaço da casa e o que este espaço comporta apenas. Física e figurativamente. Suas atividades e criações sempre circundavam a ideia do cuidado com o marido, com a casa e com a família. Para ilustrar tal fenômeno, Michelle Perrot aponta:

Mas as mulheres são suscetíveis de criar? Não, diz-se frequentemente e continuamente. Os gregos fazem do pneuma, o sopro criador, propriedade exclusiva do homem. “As mulheres jamais realizam obras-primas”, diz Joseph de Maistre. Auguste Comte as vê como capazes apenas de reproduzir. Como Freud, que lhes atribui, entretanto, a invenção da tecelagem: “Estima-se que as mulheres trouxeram poucas contribuições às descobertas e às invenções da história da cultura, mas talvez elas tenham inventado uma técnica, a da trançagem e da tecelagem” por que isso? Alguns dão para essa deficiência um fundamento anatômico. (PERROT, 2006, p. 96)

As autoras Sandra Gilbert e Susan Gubar em seu livro A louca no sótão (1984), discorreram sobre a prepotência masculina em relação ao privilégio de poder escrever. Segundo as autoras, diziam-se eles portadores de um certo dom, como se a caneta (ou pena) fosse extensão de seu corpo masculino. Valendo-se da linguagem conotativa, a caneta seria um pênis, pois só os homens – nascidos assim – poderiam fazer uso de tal instrumento:

Uma caneta é um pênis metafórico? Gerard Manley Hopkins parece ter pensado assim. Em uma carta a seu amigo R. W. Dixon em 1886 ele confidenciou uma característica crucial de sua teoria da poesia. A "qualidade mais essencial" do artista, declarou ele, é "a execução magistral, que é uma espécie de dom masculino, e especialmente distingue os homens das mulheres, a iniciação do pensamento no papel, no verso, ou qualquer que seja o assunto". Além disso, ele observou que "em melhor consideração, parece-me que a maestria de que falo não está tanto na mente como uma puberdade na vida dessa qualidade. A qualidade masculina é o dom criativo.” (GILBERT; GUBAR, 1984, p. 3, tradução nossa)[3]

Como as mulheres poderiam escrevem se não possuíam uma caneta em seu corpo? “A sexualidade masculina, em outras palavras, não é apenas analogicamente, mas na verdade a essência do poder literário.” (GILBERT e GUBAR, 1984, p. 4, tradução nossa)[4]. Tal associação disparatada, era a tentativa de justificar o porquê mulheres que não estavam escrevendo: seria algo da própria natureza humana.

         É notório que havia uma anuência ao fato da sexualidade masculina e o poder de criação literária estarem interligadas. Como destaca a professora Daise Lilian Fosneca Dias em seu artigo:  A recepção crítica ao morro dos ventos uivantes: questões de mulher e literatura (2012), “é como se as mulheres fossem estéreis criativamente” (DIAS, 2012). Séculos e séculos sendo levadas a tais considerações, mulheres do mundo inteiro tiveram de participar de um jogo de poder patriarcal que ditava todas as regras de como elas deveriam ser e o que deveriam fazer.

Esse poder de criação refletia, inclusive, nas representações que eles faziam das mulheres. Elas sempre eram idealizadas de uma forma ficcional com o que se acreditava ser mulher e, descritas pelas condições impostas a elas. Ou seja, uma visão totalmente superficial e estereotipada das mulheres, que levava em consideração apenas a perspectiva masculina da realidade social.  Obviamente, tais representações não correspondiam à realidade. Como aponta Virginia Woolf (2017) no livro Um teto todo seu:

De fato, se a mulher não existisse a não ser na ficção escrita por homens, era de se imaginar que ela fosse uma pessoa da maior importância; muito variada; heroica e cruel, esplêndida e sórdida; infinitamente bela e horrenda ao extremo; tão grandiosa como um homem, para alguns até mais grandiosa. Mas isso é a mulher na ficção. Na vida real, como o professor Trevelyan apontou, ela era trancada, espancada e jogada de um lado para o outro. (WOOLF, 2017, p. 65-66)

Ademais, durante a maior parte da história pouquíssimas mulheres escreveram e a maioria não sabia nem ler. Virginia Woolf (2014, p. 67) exemplificou tal fato quando escreveu “ela pouco conseguia ler, mal conseguia soletrar e era propriedade do marido”. Outra grande mulher, Mary Wollstonecarf, produziu uma obra em resposta à ao documento Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, elaborado pela Assembleia Nacional Constituinte Francesa em 1789, afirmava que as mulheres não deveriam ter acesso à educação.  Então, a autora escreve, A Vindication of the Rights of Woman — Uma Reivindicação pelos Direitos da Mulher (tradução nossa), publicado em 1792, no qual faz uma análise estridente e indignada do sistema educacional do século XVIII, enfatizando o papel subalterno da mulher e de como elas eram mantidas em um estado de dependência.

Ainda sobre esta percepção, Jane Austen (2012), por sua vez, traz em seu livro A Abadia de Northanger, uma referência ao tema.

Sobretudo a mulher, quando tem a desgraça de conhecer alguma coisa, deve escondê-lo o máximo possível. Embora para a maior e mais frívola parte do sexo masculino a imbecilidade aumente em muito os encantos pessoais femininos, há uma parte deles, razoável e bem informada, que deseja algo mais na mulher do que a ignorância. (AUSTEN, 2012, p.42).

A autora faz uma crítica aos livros e regras de etiqueta do século XVIII, que orientavam as moças a ocultarem quaisquer indícios de conhecimento perto dos homens, para não os intimidar. Esse medo era escondido pela arrogância e rigidez conceptiva de que as mulheres poderiam, no fim, serem tão criativas quanto os homens, poderia ser como justificativa para a tentativa de convencimento da incapacidade feminina.

A conquista do espaço de autoria e escrita foi um caminho cansativo de percorrer.  Entretanto, alguns vieses foram adotados estrategicamente para que as possibilidades de escrita não fossem nulas a elas. Uma dessas estratégias foi o uso de pseudônimos e, até mesmo, de toda a indumentária masculina como meio de burlar o sistema patriarcal conceptista da crítica literária da época.  Protestos demarcaram a segunda tática e a última diz respeito a uma conscientização relativamente recente. Dos anos 60 para cá, é notório um amadurecimento e, finalmente, o reconhecimento da autoria das mulheres.  

A escrita feminina começa a ter representatividade na Inglaterra depois do século XVIII com escritoras como: Jane Austen, George Eliot, Irmãs Brontë, Vírginia Woolf; e na França com Collete, Françoaise Sagan, Nathalie Serraute entre outras. Essas mulheres enfrentaram muitos desafios para que pudessem escrever.  Para tratar deste tema, Virginia Woolf (2018) no ensaio: Profissões para mulheres, utiliza-se da metáfora para a construção de uma entidade — um fantasma— que aparecia quando ela escrevia. Woolf o apelidou de Anjo do Lar[5]. Deveras, este fantasma representava os estereótipos, os moldes que a sociedade impunha às mulheres. Isso fica claro na seguinte passagem:

E, quando fui escrever, topei com ela já nas primeiras palavras. Suas asas fizeram sombra na página; ouvi o farfalhar de suas saias no quarto. Quer dizer, na hora em que peguei a caneta para resenhar aquele romance de um homem famoso, ela logo apareceu atrás de mim e sussurrou: “Querida, você é uma moça. Está escrevendo sobre um livro que foi escrito por um homem. Seja afável; seja meiga; lisonjeie; engane; use todas as artes e manhas de nosso sexo. Nunca deixe ninguém perceber que você tem opinião própria. E principalmente seja pura”. E ela fez que ia guiar minha caneta. (WOOLF, 2018, p. 12)

 Virginia usa da linguagem figurada para falar que eram muitos os obstáculos enfrentados pela mulher pela mulher que queria ser escritora. Além disso, elas não possuíam um lugar para tal ocupação. Como a própria Virginia Woolf aponta quando diz que, “se uma mulher escrevia, tinha que escrever na sala de estar, com todos os demais” (WOOLF, 2017, p. 97). Apesar disso, elas estavam espalhando-se, mesmo com todos os empecilhos. A sua escrita era um exercício de memória, um resgate da verdadeira narrativa feminina, antes tão subjetivada, estereotipada e passiva, mas que aos poucos restabelecia parte da trajetória feminina silenciada e marginalizada pela repressão masculina.  Em concordância com esta ideia, trazemos Perroy (2006) quando aponta que.

São cada vez mais numerosas aquelas que tentam ganhar a vida pela pena. Escrevem nos jornais, nas revistas femininas. Publicam obras de educação, tratados de boas maneiras, biografias de “mulheres ilustres”, gênero histórico muito em voga, e romances. É através do romance que as mulheres ingressam na literatura. (PERROT, 2006, p.97)

A porta de entrada para inserção da mulher na literatura foi o romance. Alguns desses trabalhos se tornaram grandes obras literárias consagradas pela literatura mundial. Era o ato da livre criação que dava suas faces às mulheres, contemplando todo seu esplendor e presenciando um grito silenciado que estava guardado durante séculos.

Já no Brasil, o movimento social, político e econômico das Mulheres que buscavam o direito ao sufrágio — voto — ficou conhecido como Movimento Sufragista e, apesar de já existirem prenúncios do movimento sufragista no século XIX, foi apenas no século XX que ele ganhou corpo, foi nessa época que a produção autoral feminina começa a ganhar alguma visibilidade, como destaca Zahidé Lupinacci Muzar (2003):

No Brasil, a literatura feminina somente começa a ser visível, ou um pouco respeitada, no primeiro quartel do século XX. Ainda que produtivas, nossas escritoras ficaram excluídas da historiografia literária, mas, curiosamente, embora à margem, a literatura feminina foi presença constante nos periódicos do século XIX, tanto nos dirigidos por homens quanto nos inúmeros criados e mantidos por elas próprias. Aliás, é quase impossível estudar a literatura feita por mulheres no século XIX sem nos debruçarmos no estudo e levantamento do que foi publicado nos periódicos dessa época. Além da produção em jornais, elas publicaram muitos livros, uma produção, ainda que desaparecida, nada desprezível. Estranhamente, tudo isso foi sendo colocado de escanteio a partir do século XX, e somente com algumas pioneiras - como Josefina Álvares de Azevedo, Corina Coaracy, Carmem Dolores e, principalmente, já no século XX, com a precursora obra de Gilka Machado, ou a de feministas como Maria Lacerda de Moura - é que a mulher foi conseguindo firmar pé na literatura e na cultura brasileiras.  (MUZART, 2003, p. 225-226)

Não obstante, Zinanni e Polesso nos dizem que, “por muito tempo, a literatura feminina foi uma literatura de margem, ou seja, esteve à parte das grandes obras canônicas, salvo algumas exceções.”  (ZINANNI e POLESSO, 2010, p. 102).  O que não significa dizer que não existiam mulheres que escreviam no Brasil. Elas estavam fazendo seus textos, lutando contra uma sociedade opressora Seus nomes são muitos e a professora Zahidé Lupinacci Muzart mostra nos três volumes da obra, Escritoras brasileiras do século XIX, que elas estavam escrevendo. Ao todo mais de 150 mulheres autoras criativas brasileiras percorreram a trilha árdua para fora da invisibilidade e ocuparam o seu liga de direito na literatura brasileira. Uma conquista mais que significativa para a luta feminina brasileira.

Pesquisas sobre autoria feminina no Brasil são relativamente recentes, por isso é importante que mais pesquisas que abordem tal temática sejam realizadas. Talvez assim, seja possível suprir-se as lacunas deixadas ao relatar as histórias de escritoras mulheres como observa Constância Lima Duarte (ano):

Também o estudo sobre a mulher e sua representação na literatura data relativamente de poucos anos. Até a década de 1980, por exemplo, esses estudos nem eram considerados objeto legítimo de pesquisa. Só quando pesquisadoras – em grupo ou isoladamente – tomaram a iniciativa de desenvolver trabalhos sobre o tema, e apresentá-los nos congressos, é que a temática se consolidou nos meios acadêmicos do país. Hoje a tendência de expansão dessa linha de pesquisa é inegável, basta observar o número sempre crescente de artigos, teses e livros que a todo o momento surgem. (DUARTE, 2018, p.7)[6]

        

O aumento nas pesquisas que objetivam narrar a história das mulheres na literatura brasileira vai ao encontro do aumento do exercício de autoria. A partir dos anos 90 a história começou a apresentar singelas mudanças, as produções literárias femininas tiverem sua inserção, de forma mais notável, no meio editorial.

Segundo a reportagem: Conheça o Mulherio das Letras, articulação de autoras por igualdade no mercado editorial da revista Cult (2017) feita por Helô D’Angelo, uma pesquisa realizada em 2012, a crítica literária Regina Dalcastagnè mostrou que, naquele momento, 72,7% dos escritores brasileiros publicados eram homens” (2017), a barreira para tamanha divisão encontra-se no mercado editorial, que ainda, guarda um legado misógino.

 Cansada de ir a premiações e encontrar poucas mulheres a escritora Maria Valéria Rezende, idealizou o projeto Mulherio das Letras (ano), que objetivava dar visibilidade à mulher no cenário literário do Brasil. Trata-se de um coletivo literário composto por mulheres das mais variadas cadeiras criativas e produtivas possíveis, articuladas pela astúcia da autora, que em uma página do Facebook, organizou o primeiro, de muitos encontros que encadearam nos anos seguintes. Estima-se que o grupo conta com mais de 7 mil mulheres pelo Brasil e pelo mundo.  

3.1 Mulheres nos livros didáticos

Os livros didáticos são apresentados como um caminho para os docentes traçarem suas práticas em relação ao ensino e aprendizagem dos estudantes. Todavia, alguns preferem usufruir da autonomia que dispõem e não seguir este caminho pré-estabelecido. Desde o ano de 2017, a aquisição e distribuição destes elementos didáticos encontra-se unificada. No PNDL (Programa Nacional do Livro Didático) no decreto nº 9.099, de 18 de julho de 2017, é apontado que: 

É destinado a avaliar e a disponibilizar obras didáticas, pedagógicas e literárias, entre outros materiais de apoio à prática educativa, de forma sistemática, regular e gratuita, às escolas públicas de educação básica das redes federal, estaduais, municipais e distrital e também às instituições de educação infantil comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos e conveniadas com o Poder Público. (BRASIL, 2020, s/p)

A escolha dos materiais se dá por escolas inscritas no PNLD. O ciclo de duração dos livros é de 4 anos em cada etapa do Ensino Básico, as editoras interessadas, participam de uma espécie de licitação, assim é estabelecida as normas de escolha para os materiais didáticos.

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) apresenta a literatura de uma forma transversal, sem ser um componente curricular único. Não obstante, ela é centralizada pelo ensino de Língua portuguesa, porém seu estudo também pode acontecer nas demais áreas do conhecimento. Além disso, o ensino de literatura na escola deve ser efetivado em todas as etapas. Há uma intensificação do ensino quando os estudantes atingem o Ensino Médio. A explicação poderia se dar por conta do amadurecimento dos discentes em compreender as nuances que a literatura tem. Entretanto, o que acontece é que com a aproximação das provas do ENEM e dos vestibulares, o interesse dos estudantes aumenta, já que parte das questões são relacionadas aos períodos literários.

Trabalhar com a Literatura deve fornecer base para estimular a criticidade dos estudantes, fazendo-os ter uma visão crítica sobre o mundo, fazer a leitura de mundo antes da leitura da palavra, como diria Paulo Freire (2017) Segundo a BNCC, a leitura do texto literário

que ocupa o centro do trabalho no Ensino Fundamental, deve permanecer nuclear também no Ensino Médio. Por força de certa simplificação didática, as biografias de autores, as características de épocas, os resumos e outros gêneros artísticos substitutivos, como o cinema e as HQs, têm relegado o texto literário a um plano secundário do ensino. Assim, é importante não só (re)colocá-lo como ponto de partida para o trabalho com a literatura, como intensificar seu convívio com os estudantes. (BRASIL, 2019, p.499)

É evidente que um importante caminho para se trabalhar a literatura se dá através do contexto. Nesse sentido, a história é uma importante aliada para que tal intento seja alcançado. Tal fato é notado quando são trabalhados os períodos literários. Por exemplo, abordam-se questões biográficas dos autores e características estéticas da época.

A grande problemática encontra-se na ausência de representatividade feminina dentro dessa prática de ensino. Os conteúdos dos livros didáticos, fazem referência apenas a nomes como Clarice Lispector e Rachel de Queiroz, como se autoria feminina anterior ao surgimento destas autoras, não existisse. Mas as mulheres escritoras estavam produzindo seus textos com toda a dificuldade que a atividade denotava. Porém seus nomes foram apagados da história e afastados da literatura.

Toma-se como exemplo o estudo sobre o Realismo no Brasil, nomes como Machado de Assis, Raul Pompéia, Xavier Marques e João Lúcio Brandão são frequentemente elencados como exemplos de autoria. Haja vista que havia algumas mulheres que produziam livros nesta mesma época, sendo a de maior destaque a autora Júlia Lopes de Almeida, e sua obra A Falência, porém silenciada ao longo da história.

Os períodos literários compõem a maior parte dos estudos que envolvem a literatura no Ensino Médio. É importante contextualizá-los, além de demonstrar como a linguagem era empregada, instigar a criticidade e principalmente mostrar as produções das autoras brasileiras das épocas trabalhadas.

4. Aulas de literatura produzida por mulheres: estratégias inovadoras  

Inovar nem sempre é uma tarefa fácil. No que diz respeito à educação, velhas práticas têm sido replicadas como modelos a serem seguidos, havendo, inclusive, certa resistência ao novo. Com a pandemia no ano de 2020 muitas coisas mudaram e tiveram de mudar de forma abrupta. Novas técnicas e estratégias foram implementadas para assumirem seus lugares importantes na educação da atualidade.

Para que haja inovação, faz-se necessário ressaltar que não é uma regra o uso de tecnologias.  É fato que elas auxiliam muitíssimo, mas a esse respeito Hack (2013) em seu livro... vai nos dizer que.  

as técnicas e tecnologias deverão sempre ser o meio e não o fim do processo de construção do conhecimento. Por isso, o docente e o aprendiz precisarão aprender a dominar a tecnologia, sujeitando-a aos seus objetivos; uma utilização que deverá se pautar na criticidade, na criatividade e na prática contextualizada. (HACK, 2013, p. 13).

O grande ponto a ser elencado é que tais técnicas serão o meio e não o fim do processo educativo. No que diz respeito ao uso de algumas metodologias ativas, elas podem ser aliadas para tornar o ensino de Literatura mais atrativo aos estudantes que, algumas vezes, apresentam certo desinteresse.

Métodos como: O Storytelling, a Aprendizagem Baseada em Problemas e a Gamificação são meios para que a Inovação na Educação aconteça de forma a envolver cada sujeito do processo educacional. A partir de agora discorreremos sobre algumas delas:

4.1 Storytelling

Narrar histórias encontra-se no DNA da Literatura, afinal “histórias dão sentido à vida” (XAVIER, 2015, p. 23). Se pensarmos nos primórdios literários, as primeiras manifestações de tal arte ocorriam por meio da oralidade. Os aedos na Grécia antiga eram responsáveis por contar os feitos heroicos, como por exemplo, a Guerra de Tróia.

As tradições compartilhadas pela oralidade ganham a memória afetiva daqueles que um dia ouviram histórias, lendas, causos, pois, segundo a cartilha elaborada pelo SEBRAE, Storytelling na Educação:

a contação de histórias sempre foi parte da cultura humana, isto é, um instrumento de identidade e memória que nos diferencia das demais espécies. É a forma mais antiga e, ao mesmo tempo, contemporânea de transmitir mensagens com eficácia. (SEBRAE. p.3)

O termo Storytelling é a junção do substantivo story (história) e do verbo tell (contar, narrar). Portanto, nada mais é do o ato de contar histórias. Assim, a técnica apresenta-se como a capacidade de contar histórias envolvendo os interlocutores emocionalmente, A utilização dessa estratégia apresenta vantagens para realização em sala de aulas. Segundo Silva, Oliveira e Martins (2018) é certo que

O storytelling utilizado em sala de aula contém benefícios como adquirir o interesse dos alunos, transmitir o conteúdo de forma mais interessante, gerar uma comunicação mais próxima com o aluno, intertextualidade com outras disciplinas e garantir um aprendizado efetivo. Além de habilidades de reflexão, de linguagem, pensamento de nível superior, sociais e artísticas. (SILVA; OLIVEIRA; MARTINS, 2018, p. 2).

Essa estratégia, apesar de ter se destacado no Marketing, é extreitamente ligada à Literatura, assim sendo, muito bem-vinda na educação. Por exemplo, na educação infantil a contação de história faz parte da rotina das crianças, além de estimular à criatividade e imaginação, impulsiona os pequeninos ao desenvolvimento emocional. O problema encontra-se que ao ingressar no Ensino Fundamental anos iniciais, isso vai se distanciando da realidade do estudante, apagando-se até encontrar o total esquecimento no Ensino Fundamental anos Finais e Médio.

Ao invés de silenciarmos esta prática no decorrer da vida escolar, poderíamos trazê-la para outras áreas. Assim, teríamos olhos brilhantes ao nosso redor e não um desinteresse quase coletivo por determinadas frentes dos componentes curriculares. Literatura e a contação de histórias são quase um casal perfeito, mas que encontram barreiras dependendo do nível de ensino e a faixa etária dos estudantes para que se ensina.

Por exemplo, se ao abordar determinada escola literária fosse possível, além de trazer dados, livros e autores de forma superficial, que fosse feito o uso do Storytelling. Com o intuito de abordar além dos nomes que os livros didáticos propõem, literatura produzida por mulheres, como por exemplo, os livros de Nísia Floresta, umas das primeiras autoras do nosso país que foi largada no caminho do esquecimento. Segundo o material do SEBRAE:

Quando é capaz de reter a atenção do público, uma história também desperta o desejo de cooperação voluntária. Isso se deve ao fato de os ouvintes compartilharem os mesmos sentimentos do protagonista ao longo do enredo. Assim, a tendência é que, ao final da história, também sintam mais empatia, autoconfiança, altruísmo e disposição. (SEBRAE, p. 5)

Uma maneira pelo qual podemos evidenciar o uso do Storytelling na educação são nos problemas matemáticos, quando cria-se uma narrativa com personagens fictícios e uma ação que ele realiza —o Joãozinho e sua maçãs, por exemplo —  A chave encontra-se em exatamente nessa perspectiva: envolver o estudante em uma narrativa a tal ponto que ele queira realmente ouvir aquela história, que aquilo faça sentido para ele de alguma forma.

Isso posto, unir Literatura e a técnica Storytelling é uma excelente estratégia para engajar os estudantes, despertar um interesse mais robusto pelos conteúdos literários, com um foco maior nas produções realizadas por mulheres. Tal procedimento configura em uma aprendizagem significativa e aquilo, que um dia se apresentou como algo tedioso, será transformado em uma aula divertida e engajada.

4.2 Aprendizagem Baseada em Problemas

Alguns são os pressupostos teóricos acerca da definição da metodologia ativa Aprendizagem Baseada em Problemas — PBL[7]. É fato que nas últimas décadas tal estratégia de ensino vem ganhando maior visibilidade dentro das instituições de ensino.  Segundo Souza e Dourado (2015, p. 184), “a Aprendizagem Baseada em Problemas é um método de aprendizagem que, nos últimos anos, tem conquistado espaço em inúmeras instituições educacionais de ensino superior (nos cursos de graduação e pós-graduação) e no ensino básico em diversas disciplinas.” É cada vez mais notório a necessidade de estabelecer conexões significativas durante o processo de ensino e aprendizagem. Assim, esta abordagem apresenta-se como uma forma de realizar tal feito.

Colocar o estudante no centro do processo deve ser a premissa de todo professor. Por meio da estratégia inovadora PBL, tal afirmativa pode ser concretizada. Segundo Camargo:

O problema coloca o aluno no centro do processo, como protagonista. No entanto, é necessário construir situações problema que vão estruturar essa aprendizagem, de modo que esses cenários sejam situações que se caracterizem como um problema para os alunos. Trata-se, portanto, de construir um cenário de aprendizagem, com início e fim bem definidos (CAMARGO, 2018, p.83)

        

Quando o estudante se depara com uma situação na qual precisa ir atrás de sua solução, a aprendizagem torna-se significativa para ele. Nesta perspectiva, se pensarmos em Literatura produzida por Mulheres, tal temática é o próprio problema a ser solucionado, O exercício de escrita foi negado às mulheres por meio tempo.; escrever era um ato de coragem à mesma medida que era um problema.

A partir desta ideia, seria possível utilizar a própria questão norteadora desta pesquisa como gatilho para a utilização desta estratégia. Assim, uma aula de literatura poderia partir da sugestão para que os estudantes discutissem a respeito de como às mulheres dos séculos passados, que desejam escrever, tiveram de encontrar alternativas para que seus trabalhos fossem publicados, aceitos e não menosprezados. Em decorrência disto, os alunos veriam o porquê estudar Literatura pelas perspectivas das produções de autoria feminina faria sentido para eles.

Ainda partindo desta ótica, o envolvimento dos estudos literário — pertinentes ao ensino básico — com a PBL, o ganho ao utilizar este procedimento seria imensurável, tendo em vista., as múltiplas facetas que tal abordagem permitiria. Segundo Mariana Pereira e Robson Santos:

        

No que diz respeito à disciplina de literatura, esse problema poderá se valer de diferentes tipos de manifestações sociodiscursivas (cartas, textos jornalísticos, críticas literárias, textos publicitários, documentários...) para prover ao aluno o acesso ao contexto social, ao pensamento filosófico e à concepção estética nos quais determinada obra inseria-se. A literatura e as demais manifestações artísticas podem ser descritas como reproduções materiais do homem que o descrevem por ele próprio, bem como um local de reconhecimento e identificação do mesmo consigo, dessa maneira, o objetivo do trabalho é transmitir essa ideia ao aluno durante seu contato com textos literários. (PEREIRA; SANTOS, p. 4)

Os inúmeros suportes que a Literatura versa, seriam como a cereja do bolo, permitindo enriquecer ainda mais esta metodologia ativa. A utilização do PBL como aliada para tecer aulas de Literatura mais atrativas, e significativas, e ainda abordar a questão de autoria feminina é uma admirável e inovadora forma de ensinar, capaz de trazer significação e sentido à aprendizagem, tomando um lugar eterno na memória afetiva dos estudantes.

4.3 Gamificação:

Engajamento apresenta-se como a palavra do momento, mais comumente usada nas redes sociais, essa técnica pode ser a chave para aula mais inovadoras. Tal recurso pode ser despertado por meio das dinâmicas e jogos que a gamificação proporciona.

O termo gamificação foi usado pela primeira vez pelo pesquisador Nick Pelling e consiste na utilização da dinâmica que os jogos estabelecem em um ambiente de não-jogo. Segundo Minho e Alvez (2018):

Empresas já utilizavam as lógicas das recompensas e da pontuação para treinamento de seus funcionários, programas de televisão mantinham ou aumentavam o número de espectadores utilizando essas técnicas, empresas de vendas de produtos e propaganda utilizavam para aumentar a sua malha de vendedores. (ALVEZ, MINHO, 2014, p. 77)

Era notável o envolvimento que tais recursos despertavam nas pessoas em suas múltiplas utilizações. Tendo em vista o aumento do consumo de dispositivos eletrônicos pelo mundo, com o seu apogeu nas décadas de 80 e 90 quando empresas como Nintendo e Sony enriqueceram com a venda de videogames, a consumação de jogos ficou cada vez mais frenética.

Em um mundo no qual as crianças já nascem conectadas, o desafio apresenta-se como um elemento que instiga fortemente os estudantes. O desafio que é próprio da situação do jogo funciona como um impulsionador para a aprendizagem.  Para corroborar com este fato, trazemos os autores Minho e Alvez em seu artigo: Gamificação diálogos com a educação (2018): “O desafio é o elemento propulsor para motivar e engajar os jogadores, estabelecendo objetivos que devem ser alcançados a curto, médio e longo prazo, mediantes as estratégias que mobilizam funções cognitivas e subjetivas.”.

Isso posto, é certo afirmar que o uso da gamificação auxiliaria muito no ensino de Literatura produzida por mulheres. Trabalhar com as autoras que foram esquecidas ao longo do tempo, de uma forma que despertasse o interesse coletivo, será muito motivador e geraria um interesse maior dos estudantes.

Um bom exemplo seria o uso de plataformas gamificadas e de fácil acesso como o wordwall e o Kahoot. Desenvolver uma forma diferente de avaliação, com o auxílio de tais ferramentas, seria motivador e inspirador. Poder-se-ia estabelecer um jogo, no qual, os estudantes fossem descobrindo cada autora brasileira, silenciada ao longo do tempo, em que a cada etapa eles fossem trazê-las à luz, isso provocaria um sentimento muito significativo em cada um deles.

Há algumas práticas possíveis dentro dessa abordagem, uma delas diz respeito à recompensa. No exemplo citado acima, a recompensa será devolver às autoras seu nome que fora riscado da história, colocando-o no lugar que nunca deveria ter saído. Minho e Alvez discorrem a respeito dessa perspectiva em seu artigo Gamificação :diálogos com a educação (2018), segundo eles a “gamificação surge como uma possibilidade de conectar a escola ao universo dos jovens com o foco na aprendizagem, por meio de práticas como sistemas de rankeamento e fornecimento de recompensas” (ALVEZ, MINHO, 2014, p. 83).

Assim sendo, a utilização dos jogos e plataformas digitais atuam como ponte primordial entre o universo do estudante e a construção do conhecimento. Para Cristiano Tonés, “o computador e os games me ajudam na medida em que possibilitam a ampliação de uma reflexão e resolução de um problema inicial” (2017, p. 54). Essa ponte estabelece uma conexão maior ainda: entre o estudante e o professor, que estabelecem um laço único para a resolução de questões, motivando, envolvendo e criando significado.

  1.  Conclusão

Tecer estratégias que buscam inovar é adequar-se à nova realidade educacional. Unir as metodologias inovadoras e provocar o engajamento dos estudantes é parte crucial do novo formato de educação.

Nossa proposta buscou elencar estratégias que sejam utilizadas no ensino de Literatura, mais especificamente, Literatura produzida por Mulheres, tendo em vista a invisibilidade que, durante muito tempo, fez parte das produções realizada por elas, apenas os escritos realizados pelos autores eram considerados. Homens possuíam a pena nas mãos e um pênis entre as pernas, eles eram guardiões do conhecimento, possuidores de poder. Autoras do mundo todo tiveram de enfrentar condições adversas e muitas vezes encarar fantasmas que estavam incrustados no pensamento da época.

A composição dos livros didáticos de Língua Portuguesa, no que diz respeito à Literatura, dá margem à interpretação de que as Mulheres só foram existir — como autoras — a partir da escola literária modernismo, com os nomes de Rachel de Queiroz e Clarice Lispector.

Envolver tais perspectivas, mostrou-se de extrema importância, tendo em vista a união de novas abordagens para as aulas de Literatura e escrita feminina. Em um momento único que estamos vivenciando no que diz respeito à educação, novas metodologias não são mais um diferencial, devem ser parte do processo de ensino e aprendizagem e fazer parte do cotidiano dos professores e estudantes. Essas inovações devem deixar de ser encaradas como ferramentas para aulas extras e sim passarem a ser parte integrante do dia a dia escolar.

Cada técnica que apresentamos ao longo deste artigo visa uma aprendizagem significativa, bem como, uma experiência carregada de sentido. O uso do Storytelling, por exemplo, é a ferramenta perfeita para as aulas de Literatura, tendo em vista que narrar histórias é parte da essência dessa frente curricular. Já com a Aprendizagem Baseada em Problemas a significação é criada de forma coletiva, tendo em vista que encontrar a solução para um problema, gera um sentimento positivo e uma memória afetiva bem estrutura durante o processo. Por fim, a Gamificação, gera um engajamento nos estudantes, apresenta aspectos conhecidos deles, a busca pela solução do desafio que é proposto dá sentido à aprendizagem.

As metodologias ativas dentro da educação devem ser uma realidade cada vez mais presente. Quando falamos no ensino de Literatura produzida por Mulheres tais métodos funcionam como a ponte necessária para despertar o interesse dos estudantes e abordar a temática que fora silenciada nos livros didáticos e no tempo. Desta forma, estabelecer essas conexões com os estudantes levando-os a criação do senso de criticidade e criatividade é torna-los sujeitos do próprio conhecimento.

  1. Agradecimentos

        Esta pesquisa foi subsidiada pelo Programa de Bolsas Universitárias de Santa Catarina no âmbito do UNIEDU e pela Universidade do Planalto Catarinense - UNIPLAC.

Referências

ANGELO, Helô D’. Conheça o Mulherio das Letras, articulação de autoras por igualdade no mercado editorial. Revista Cult, 2017. Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/mulherio-das-letras-grupo-nacional-de-autoras-por-igualdade-no-mercado-editorial/ . Acesso em: 27 out. 2020.

AUSTEN, Jane. A Abadia de Northanger. São Paulo, SP: LandMark, 2012.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular, 2019.

BRASIL. Ministério da Educação. PNLD, 2020. Disponível em: < http://portal.mec.gov.br/pnld/apresentacao#:~:text=O%20Programa%20Nacional%20do%20Livro,redes%20federal%2C%20estaduais%2C%20municipais%20e >. Acesso em: 30 nov 2020

BRASIL. Câmara dos deputados. As mensageiras: primeiras escritoras do Brasil, série histórias não contadas. Brasília: Centro Cultural Secretaria de Comunicação Social, 2018.

CÂMARA, Marwio. A autoria feminina na atual literatura brasileira. Jornal opção, 2018. Disponível em: https://www.jornalopcao.com.br/opcao-cultural/autoria-feminina-na-atual-literatura-brasileira-117869/ . Acesso em: 27 nov. 2020.

CAMARGO, Fausto; DAROS Thuinie. A sala de aula inovadora: estratégias pedagógicas para fomentar o aprendizado ativo. Porto Alegre, RS: Penso, 2018.

DIAS, Daise Liliam Fosneca. A recepção crítica ao morro dos ventos uivantes: questões de mulher e literatura. In: Revista Graphos. [online]. v. 14, n 2, 2012 p. 18-45 ISSN 1516-1536. Disponível em: <https://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/graphos/article/view/13423> Acesso em: 25 nov 2020.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo:. Cortez, 2017.

 

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo, SP: Atlas, 2002.

GILBERT, Sandra; GUBAR, Susan. The Madwoman in the Attic: The Woman Writer

and the Nineteenth-Century Literary Imagination. New Haven: Yale University Press, 1984.

GUIDA, Mariana Pereira; CARVALHO, Robson Santos de. A aprendizagem baseada em problemas como uma possibilidade para ensino de literatura nas escolas. In: Revista trem de Letras. [online]. v. 2, n. 1, p. 77-81, 18 nov. 2013. Disponível em: https://publicacoes.unifal-mg.edu.br/revistas/index.php/tremdeletras/article/view/158/99 

HACK, Josias Ricardo; GUEDES, Olga. Digital Storytelling, educação superior e literacia digital. Roteiro. Joaçaba: UNOESC, v. 38, n. 1, p. 7-29, jan./jun. 2013.

MUZART, Zahidé Lupinacci. Uma espiada na imprensa das mulheres no século XIX. In: Rev. Estud. Fem. [online]. Florianópolis, v.11, n.1, 2003, p. 225-233. ISSN 0104-026X. Disponível em: < https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-026X2003000100013&lng=pt&tlng=pt >. Acesso em: 26 nov. 2020.

PERROT, Michelle. Minha História das Mulheres. São Paulo, SP: Contexto, 2017.

PRIORE, Mary del. História das mulheres no Brasil. São Paulo, SP: Contexto, 2002.

SEBRAE. Storytelling na Educação: O poder das narrativas para estimular a atenção, a criatividade e as relações interpessoais em sala de aula. Disponível em: < https://d335luupugsy2.cloudfront.net/cms/files/44571/1519649731ebook-storytelling_na_educac_a_o_.pdf>

SILVA, Jamille Anderson Luiz da; OLIVEIRA, Fábio Cristiano Souza; Martins, Danielle Juliana Silva. Gamificação e storytelling como estratégia motivacional no ensino de programação. Foz do Iguaçu. 2018. 10 p.

SOUZA, Samir; DOURADO, Leonardo. Aprendizagem baseada em problemas (ABP): um método de aprendizagem inovador para o ensino educativo. Rev. Holos. [online]. Rio Grande do Norte, v.5, 2015, p. 184-18. ISSN 1807-1600. Disponível em: < http://www2.ifrn.edu.br/ojs/index.php/HOLOS/article/viewFile/2880/1143>

VANZIN. Tarcisio; FEDEL, Luciane Maria; ULBRICHT, Vânia Ribas; BATISTA, Claudia Regina (org). Gamificação na educação. São Paulo, SP: Pimenta Cultural, 2014.

WOOLF, Virginia. Profissões para mulheres e outros artigos feministas. Porto

Alegre, RS: L&amp;PM, 2018.

WOOLF, Virginia: Um teto todo seu. São Paulo, SP: Tordsilhas, 2017.

WOLLSTONECRAFT, Mary. Reivindicação dos direitos das Mulheres. São Paulo, SP: Boitempo, 2016.

XAVIER, Adilson. Storytelling: Histórias que deixam marcas. Rio de Janeiro, RJ: Best Business, 2015.

ZINANI, Cecil Jeanine Altebert; POLESSO, Natalia Borges. Da margem: a mulher escritora e a história da literatura. In: Métis História & Cultura. [online]. Caxias do sul. V9, n.18, 2010, p. 99-112. ISSN 1677-0706. Disponível em: < http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/metis/article/view/998>. Acesso em: 28 nov 2020.


[1] Pós-graduanda em Inovação na Educação, pela Universidade do Planalto Catarinense, campus Lages. Pesquisa sobre Aulas inovadoras de literatura produzida por mulheres.:andressaalmeidanunes@gmail.com 

[2]Mestre em Educação, pela Universidade do Planalto Catarinense, campus Lages.  Pesquisa sobre. professormiro@uniplaclages.edu. 

[3] Is a pen a metaphorical penis? Gerard Manley Hopkins seems to have thought so. In a letter to his friend R. W. Dixon in 1886 he confided a crucial feature of his theory of poetry. The artist's "most essential quality," he declared, is "masterly execution, which is a kind of male gift, and especially marks off men from women, the begetting of one's thought on paper, on verse, or whatever the matter is." In addition, he noted that "on better consideration it strikes me that the mastery I speak of is not so much in the mind as a puberty in the life of that quality. The male quality is the creative gift.”

[4] Male sexuality, in other words, is not just analogically but actually the essence of literary power. The poet's pen is in some sense (ev more than figuratively) a penis.

[5] Referência ao Poema de Coventry Patmore, o qual celebrava o amor no matrimonio e idealizava o papel da mulher na vida doméstica.

[6] Material produzido pela Câmara dos deputados — As mensageiras: primeiras escritoras do Brasil, série histórias não contadas.

[7] Do Inglês Problem Based Learning, em tradução livre: Aprendizagem Baseada em Problemas